A Esperança: Os últimos representantes de seus povos

Por Rodrigo Thomas

É inegável que as obras literárias ''O Senhor dos Anéis'' e ''Super-Homem'' fundamentaram quase tudo o que conhecemos hoje como Cultura Pop, revolucionando e inspirando novos gêneros literários, filmes, séries, jogos, rádio e TV. Ambas as obras trazem como tema a justiça, coragem e esperança, mas essas não são as únicas características que as duas obras têm em comum.

Em O Senhor dos Anéis, somos brindados com vários personagens incríveis como Frodo, Samwise, Gandalf, Legolas e Gimli, mas apenas um dos personagens traz em suas ações e em seu nome a mensagem de esperança, Aragorn o herdeiro de Númenor e Rei de Gondor. Aragorn e Super-Homem (ou Superman como preferir) são personagens que têm como cerne em suas características a esperança, e suas origens e trajetórias são bastante semelhantes.

Na origem de Aragorn, Tolkien narra que o personagem é filho de Arathorn e Gilraen, e com dois anos de idade, Aragorn perde o pai que tentou lutar contra orques. Após a morte de seu pai, Gilraen, sua mãe, o leva em segredo para Valfenda (lar dos Elfos), e lá Aragorn foi tratado como se fosse filho do próprio Elrond, e seu nome e sua e linhagem foram mantidos em segredo para sua proteção, já que Sauron poderia persegui-lo caso soubesse do seu paradeiro, pois este era o último herdeiro da casa de Isildur. Aragorn representava esperança para os homens e por isso ele foi rebatizado de Estel, esperança na língua dos Elfos. Em Valfenda, ele aprendeu muito sobre a cultura da Terra-média e a língua élfica, bem como as suas habilidades enquanto caçador. Aragorn era filho dos últimos remanescentes do povo de Númenor, e em seus últimos dias de vida ele era o último de seu povo.

Assim como Aragorn, Super-Homem conhece o peso de ser o último de seu povo, já que ele é conhecido como ''Último Filho de Krypton'' (na cronologia básica dos quadrinhos). Em sua origem em 1938, escrito por Jerry Siegel e desenhado por Joe Shuster, o personagem nasceu em um longínquo planeta chamado Krypton, e seus pais Jor-El e Lara colocam seu único filho em uma nave em direção a Terra, pois seu planeta natal estava moribundo. Jor-El e Lara mandam Kal-El (nome em kryptoniano de Clark Kent/Super-Homem) para a Terra como um último ato de esperança, eles de alguma forma sabiam que o planeta Terra era um lugar frágil e que teria o mesmo fim de Krypton. Após ser mandado ao nosso planeta, sua nave cai na cidade de Smallville (Pequenópolis), e um casal de fazendeiros chamados de Jonathan e Martha Kent encontram a nave espacial com o bebê Kal-El, após uma breve discussão o casal opta por adotar a criança, já que eles não podem ter filhos, e assim eles o batizaram  como Clark Kent. O casal de humanos mantém em segredo que Clark não é da Terra, e eles só revelam sua origem quando Clark completa a maior idade. É com seus pais adotivos que Clark ou Kal-El aprende o valor da vida e como seus poderes podem ajudar aos outros a ter esperança.

Um fato bem curioso entre os dois personagens e que ambos têm linhagens nobres, e ao descobrir suas origens eles recebem suas heranças para entender melhor seu legado, Aragorn recebe o anel de Barahir, a espada Narsil e o cetro de Annúminas (este seria entregue apenas quando ele tivesse realizado grandes feitos), já Kal-El ou Super- Homem teve como herança a Fortaleza da Solidão, onde continha a sabedoria de toda a Galáxia, a Zona Fantasma e sua nave espacial que contém os segredos de sua família, conhecidos como ''Os diários da  Casa de El''.

Em várias passagens os personagens demonstram o que eles representam para aquele mundo, a esperança, que é algo bastante entranhado à suas características,  seja em suas ações ou como um simples símbolo. Uma passagem que demonstra muito bem o sentimento de esperança em ''O Senhor dos Anéis'', e no capítulo sobre a Batalha dos Campos do Pellenor,  no último livro, ''O Retorno do Rei'':

''Foi mesmo enquanto o dia assim começava a se voltar contra Gondor e sua esperança era hesitante que um novo grito se ergueu na Cidade; era o meio da manhã, e soprava um forte vento, e a chuva voava para o norte, e brilhava o sol. Nesse ar limpo os vigias nas muralhas viram de longe uma nova visão de temor e a última esperança os abandonou''. Na página seguinte ''...E todos olharam seguiram a sua vista, e eis! na nau dianteira desfraldou-se um grande estandarte, e o vento o revelou quando a nau se virou para Harland. Ali floria uma Árvore Branca, simbolizando Gondor; mas havia Sete Estrelas à sua volta, acima dela, uma coroa alta , os signos de Elendil que nenhum senhor portará por anos sem conta. E as estrelas chamejavam à luz do sol, pois fora feita de Mithril e ouro...Assim veio Aragorn , Filho de Arathorn, Elessar, herdeiro de Isildur...'' (Harper Collins Brasil, O Retorno do Reis, Capitulo ''Batalha dos Campos do Pellenor'', pág. 1222 e 1223).

Nessa passagem é possível ver claramente que a chegada de Aragorn e a bandeira que ostenta o símbolo de sua casa, preenche os corações dos soldados de esperança, e assim como Aragorn, Super-Homem também é um símbolo de esperança e paz, em vários de seus momentos nas Histórias em Quadrinhos isso é bem notável, por onde passa o icônico símbolo com o formato de ''S'' no peito do ''Homem de Aço'' todo indivíduo é preenchido de esperança e força de vontade.

Na historia em quadrinho ''Superman Grandes Astros'', escrito por Grant Morrison, um dos momentos mais marcantes  é quando Super-Homem impede uma adolecente com depressão de cometer suicídio. É fato que o super-herói é extremamente poderoso, e poderia facilmente segurar a garota com sua força impedindo que ela se jogasse do topo do predio, mas ele salva a jovem apenas conversando com ela, com suas palavras ele consegue convencê-la de que ela é tão forte quanto ele.

Em outro momento da obra O Senhor dos Anéis onde Pipin pergunta se Sam e Frodo têm esperanças de sobreviver e Gandalf responde: ''Nunca houve muita esperança. Apenas a esperança de um tolo.'', e nos quadrinhos, quando Super-Homem morre, Lex Luthor cria uma armadura que simula os poderes do Homem de Aço, para tentar tomar o lugar do personagem, suas ações são insignificantes, pois ele apenas salvas as pessoa para ganhar credibilidade enquanto o Super-Homem demonstrava que a vida era algo raro e único. Esses momentos mostram como alguns entendem o que significa esperança, pois na visão de alguns indivíduos a esperança é algo irracional, ligado apenas em uma crença emocional que lida com possibilidades positivas em eventos de circunstâncias impossíveis.

Talvez a semelhança entre os personagens tenham tido como inspiração a religiosidade de seus criadores, já que J. R. R. Tolkien era católico e Joe Shuster e Jerry Siegel eram judeus, e ambos tiveram contato com a figura de Jesus Cristo e Moisés que também traz como mensagem a fé e esperança. Uma outra possível fonte de inspiração para os autores foi o aprendizado que eles tiraram de seus traumas, pois Tolkien viu o pior da humanidade quando lutou na Grande Guerra, já Joe Shuster e Jerry Siegel presenciaram a grande depressão em Nova Iorque, onde diversas pessoas passaram fome e cometeram suicídio, e mesmo assim algumas mantinham esperança em um mundo melhor.

Provavelmente nunca saberemos quais foram as verdadeiras inspirações para Super-Homem e Aragorn, mas eles estão eternizados em suas respectivas obras, mostrando que em um mundo preenchido da mais profunda escuridão temos a certeza que ainda há luz.

Texto de Rodrigo Thomas