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As Crônicas, A Menina e o Autor

Atualizado: 16 de set. de 2021



Por Bárbara Eliza


Existem muitos livros nesse mundo: livros bons, livros ótimos, livros que só se leem uma vez na vida… no entanto, há alguns deles que te marcam para sempre e transformam sua maneira de pensar de um modo inexplicável. Para mim, esse livro foi “As Crônicas de Nárnia”, de C.S. Lewis. Calma, pera lá, vejam só se isso não é mais um começo típico de uma resenha literária tradicional, porém não se engane, querido leitor, essa resenha/relato/conversa é tudo, menos normal, afinal estamos falando de mim! Para quem não me conhece, meu nome é Bárbara Eliza, tenho 17 anos, e sou entusiasta de tudo o que torna alguém um “nerd” hoje em dia (com orgulho disso!). Sou grande fã dos escritos de Lewis e d’O Professor, além de cristã e apaixonada por história, e esse texto é sobre como eu enveredei pelas florestas, charnecas, vales e montanhas de um lugar que se tornou um verdadeiro paraíso literário para mim. Estamos falando, é claro, do mundo secundário de Nárnia, criado por Clive Staples Lewis (1898-1963). Enfim, sou fissurada por livros de fantasia e aventuras desde os meus 4 anos, quando aprendi a ler. Lembro-me de um dos primeiros livros que li, uma Bíblia ilustrada, enorme e linda, bem como daquela emoção infantil, porém avassaladora, que vivenciava toda vez que abria e folheava um livro de aventura pela primeira vez, como quando, sentada nos corredores da escola, li as primeiras palavras de Robinson Crusoée A volta ao mundo em 80 dias. Diante disso, sinto que parece um pouco tardia a descoberta de meu livro predileto dentre todas as outras obras. Claro que eu assistira um dos filmes de Nárnia e, apesar de ser envolvente, era mais uma produção ficcional entre muitas lançadas na época, portanto, estava curiosa para saber o que aquele livro tinha de tão especial. Minha família organizou um jantar na casa de alguns amigos no período, e a anfitriã era uma professora que tinha vários livros em sua estante, incluindo o dito-cujo. Como minha mãe já sabia que eu iria atacar a estante de livros e devorar tudo o que visse pela frente, sem prestar atenção a mais nada no resto da noite, me disse que eu poderia ler Nárnia, mas apenas um capítulo. E lá se foi a pequena Bárbara, de olhos arregalados, pegar aquele calhamaço preto com um leão dourado magnífico na capa. Deu aquela boa admirada, cheirada (como de praxe), e começou do início (quem não começaria?!). Ah! Um adendo importante para quem está iniciando como Narniano, ou pretende ler os livros de Lewis: se você for ler o volume único, e mesmo nos volumes avulsos, o primeiro livro na ordem cronológica do universo de Nárnia não é o primeiro a ser publicado (no caso, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa), porém, sim, O Sobrinho do Mago, cujas histórias são anteriores à vinda dos irmãos Pevensies para Nárnia e é normalmente lido primeiro (há algumas discussões quanto a isso). Eu li o primeiro capítulo de O Sobrinho do Mago muito rapidamente, e qual não foi a minha surpresa ao constatar que, depois de uns minutos de leitura incessante, eu já me encontrava no nono capítulo (Desculpe-me, mãe!) Enfim, a professora Valquíria viu o quão fascinada eu estava pela história e, no final do jantar,me deu essa edição perfeita,com mais um livro que tinha me interessado. Obrigada,prof. Valquíria, sou extremamente grata!


Eu fiquei eufórica e, pelos próximos dois dias, não fiz nada além de ler aquele livro. Perdi o sono, não tinha fome e estava completamente deslumbrada, pois parecia que, à medida que eu passava de uma história para outra, via partes de mim dentro dessas diferentes aventuras, ora montada em um cavalo atravessando Tashbaan, ora viajando com o Peregrino da Alvorada até os confins do mundo conhecido, e conhecendo aqueles personagens como se fossem meus amigos mais íntimos. Contudo, esse universo fantástico maravilhoso e imaginativo não foi o único motivo de eu ter me apaixonado tanto por essas crônicas a ponto de virarem os meus livros favoritos desde então; não, havia mais lá, existia algo dentro daquelas histórias que eu nunca havia visto em nenhuma outra até aquele momento (e que experimentei depois em certas partes dos escritos d’O Professor e de John Bunyan, além da Bíblia). Essa coisa no livro me instigava a adentrar a filosofia enrustida nele, pois não era apenas um desejo de estar dentro daquela narrativa, era como se ela ganhasse vida ao meu redor, inundasse a minha percepção para compreender a realidade e entender mais sobre minhas próprias crenças e anseios, minha definiçãode Jesus e minha ideia de Amor. Para falar a verdade,era como se eu estivesse me apaixonando: senti meu coração palpitando, a respiração acelerada a cada página, em simultâneo empolgada e temerosa, pronta para um “salto no escuro”, como diz Kierkegaard. Eu busquei várias explicações, li muitos livros e elaborei minhas próprias teorias sobre o assunto. Como cristã desde pequena e leitora assídua da bíblia, notei de cara as óbvias alegorias presentes na obra, como o sacrifício de Aslam por Edmundo, as conversões do próprio e de Eustáquio, bem como as passagens que me levaram a desfrutarde uma percepção um pouco mais elevada e uma intimidade maior no meu relacionamento com Jesus. Eu pegava Nárnia, comparava com a Bíblia, fazia amplos estudos e falava loucamente disso por horas e horas, porém sem realmente achar explicação concreta. Finalmente, quando estava lendo algumas passagens de Como Cultivar uma vida de Leitura (também de C.S. Lewis), encontrei a definição perfeita para aquela sensação, algo que Clive, lendo o livro Phantastes de MacDonald, chamou de “um batismo para a sua imaginação”: “Pela primeira vez, o cântico das sereias soava como a voz da minha mãe ou da minha babá. Eram histórias da carochinha; não havia o porquê de me orgulhar por gostar delas. Era como se a voz que me chamara dos confins do mundo agora falasse ao meu lado. Estava comigo no quarto, ou dentro de mim, ou atrás de mim [...] Agora, porém, via a sombra brilhante saindo do livro, entrando no mundo real e ali irradiando, permeando todas as coisas comuns e ainda assim permanecendo, ela mesma, imutável”.

É um eufemismo dizer ter surtado de felicidade ao saber que Lewis, o autor de Nárnia, teve a mesmacomoção e entendimento ao ler um de seus livros favoritos! E ele continua discorrendo sobre, falando que, em certo sentido, sua conversão ao chamado (pelo próprio) de “cristianismo puro e simples” começou com essa narrativa de fadas, promovendo emoçõesfortes nele e apresentando-lhe a ideia de Santidade dentrode um mundo secundário. Ele foi ateu até sua meia-idade (e um cristão relutante por certo período), contudo, mesmo assim, descobriu uma história de fantasia que transformou a sua imaginação com valores, valores esses incrementados com tanto esmero em sua própria ficção, adicionando Jesus e a narrativa bíblica dentro de sua Mythopoeia.


A seguir, trago trechos de Nárnia para que, caso você não a tenha lido, possa se interessar, junto a alguns versículos interessantes para um paralelo com a obra. Eu, particularmente, gosto muito da filosofia presente nos livros que não têm muito a ver com as aventuras dos irmãos Pevensies, como O Sobrinho do Mago, O Cavalo e seu menino, A Cadeira de Prata e A Última Batalha, todavia, todos eles são maravilhosos para todas as idades e deslumbram as mentes de crianças, adultos e idosos para uma nova percepção de sua realidade. “- Mas não se deixem abater. O mal virá desse mal, mas temos ainda uma longa jornada, e cuidarei para que o pior caia em cima de mim. [...] E, como a raça de Adão trouxe a ferida, que a raça de Adão trabalhe para saná-la. [...]- Meu filho - disse Aslam para o cocheiro - Há muito tempo que o conheço. Você me conhece?” - O Sobrinho do Mago, p. 74 (ver Rm 5; Is 53.7; Jr 1.5, Sl 139.15, 16) “Eu (Aslam) estava lá quando ela (a Magia Profunda) foi escrita” - O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa, p. 165 (ver 1 Pe 1.20) “Filho! Estou contando a sua história, não a dela.A cada um só contoa história que lhe pertence. - Quem é você? - Eu mesmo - respondeu…” - O Cavalo e seu menino, p. 262 (verJr 29.11; Is 55; Rm 4.17) “Descende de Adão e Eva. É honra suficientemente grande para que o mendigo mais miserável possa andar de cabeça erguida, e também vergonha suficientemente grande para fazer vergaros ombros do maior imperador da Terra.” - Príncipe Caspian, p. 394 (verRm 5) “- Venham almoçar - disse o Cordeiro na sua voz doce e meiga. [...]- Por favor, Cordeiro - disse Lúcia, - é este o caminho para o País de Aslam? - Para vocês, não - respondeu o Cordeiro - Para vocês, o caminho de Aslam está em seu próprio mundo [...] Em todos os mundos há um caminho para o meu país” - A viagem do Peregrino da Alvorada, p. 513 (verJo 21; Jo 14) “... enormes lágrimas de leão, e cada lágrima era mais preciosa que toda a Terra, ainda que esta fosse um imenso diamante [...] - Enfie este espinho em minha pata, Filho de Adão” - A Cadeira de Prata, p. 623 (ver Mc 15.17; Jo 11.35) "Ali estava o anseio de seu coração, enorme e real: o Leão dourado, o próprio Aslam” - A Última Batalha, p. 716 (ver Ap 5.5) "’(...) Se qualquer homem jurar em nome de Tash e guardar o juramento por amor a sua palavra, na verdade jurou em meu nome, mesmo sem saber,e eu é que o recompensarei. E se algum homem cometer alguma crueldade em meu nome, então, embora tenha pronunciado onome de Aslam, éaTash que está servindo, e é Tash quem aceita suas obras. Compreendes isso, filhomeu? ‘ [...] 'Senhor, tu sabes o quanto eu compreendo. [...] Mesmo assim, tenho aspirado por Tash todos os dias da minha vida.’ ‘Amado’,falou o glorioso ser, ‘não fora o teu anseio por mim, não teria aspirado tão intensamente, [...] Pois todos encontram o que realmente procuram’". - A Última Batalha, p. 727 (ver Ec 3.11; Mt 7.8; Mt 7. 22-23)



 
 
 

2 Comments


Cátia Ficagna
Cátia Ficagna
Jul 08, 2021

Nossa, Bárbara! Simplesmente perfeito!

Parabéns 👏👏👏

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Obrigada, Cátia!💕

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