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Dragões, tesouros e gigantes. Não, não estou falando de O Hobbit!

Por Mirane Marques


Estou de volta, desta vez para falar sobre Mestre Giles d’Aldeia (2021). Diferente de Roverando (2021), Mestre Giles tem um teor menos infantil, embora possa ser muito bem apreciado pelas crianças. Neste livro de J. R. R. Tolkien temos mais uma história criada para ser contada para seus filhos. John, o filho mais velho do escritor, se lembra de ouvir uma versão dessa aventura enquanto se escondiam de uma tempestade, embaixo de uma ponte, provavelmente depois de 1926, quando se mudaram para Oxford. No entanto, o relato só foi escrito em 1947 e publicado pela primeira vez em 1949, pela editora George Allen & Unwin, como Farmer Giles of Ham.



Esta é uma obra que apresentou várias edições ao longo dos anos e vale a pena destacar algumas delas. Em 1966, a história foi publicada na antologia The Tolkien Reader; em 1969, a editora americana Ballantines Books publicou-a como Smith of Wootton Major and Farmer Giles of Ham; em 1975, ela foi publicada pela Unwin Books como Farmer Giles of Ham, The Adventures of Tom Bombadil. Em 1997, o relato aparece na coletânea Tales from the Perilous Realm e, em 1999, saiu a edição de aniversário de 50 anos, organizada por Christina Scull e Wayne G. Hammond, grandes estudiosos do trabalho de Tolkien. As ilustrações, assim como na primeira edição, foram feitas por Pauline Baynes. Lembrando que essas são somente algumas das edições em língua inglesa que surgiram desde 1949.

Já no Brasil, a primeira edição é de 2003, pela editora Martins Fontes, e se chamava Mestre Gil de Ham, com tradução de Waldéa Barcellos e ilustrações de Pauline Baynes. Lá encontramos, inclusive, uma continuação da história e a primeira versão manuscrita. Também pela Martins Fontes, em 2014, saiu a edição ilustrada por Alan Lee.

Então chegamos a esta edição maravilhosa da Harperkids, ilustrada por Pauline Baynes e com tradução de Rosana Rios. Mestre Giles d’Aldeia tem capa dura e o mesmo formato menor de Roverando. Podemos ver, aqui também, o bom trabalho da tradutora, principalmente em relação aos nomes, tão importantes para a história (eu ainda não me recuperei do Vau-do-gado para Oxford; mesmo estando bem na minha cara todo esse tempo, nunca percebi).

Agora, eu imagino o que você deve estar pensando “tudo muito bonito, mas qual é a história?”. Sinto muito, mas desta vez spoilers não foram permitidos. Tudo o que posso dizer é que tem dragões, tesouros, gigantes e um herói inesperado, assim como nossos hobbits. Tolkien faz um trabalho incrível (óbvio!) parodiando os romances clássicos de cavalaria, inclusive brincando com suas principais características, como o anacronismo e o ideal cavalheiresco.



O mundo em que essas aventuras se passam nos é apresentado como histórico e real, mas os leitores acostumados com Tolkien conseguem identificar a ironia logo de cara e vislumbrar um mundo secundário baseado nas obras sobre a Idade Média. Mas se você ainda não é leitor deste autor inglês espetacular, não se preocupe! Esta é uma história que te recebe de braços abertos para este novo mundo que, sim, pode ser perigoso.

Vale ressaltar também a ideia de Tolkien de se colocar como um tradutor do relato, do latim para o inglês, e não como autor (assim como em O Hobbit e O Senhor dos Anéis), um procedimento que, geralmente, busca dar credibilidade à história, mas neste caso aumenta o tom humorístico e irônico da narrativa, principalmente quando o “tradutor” Tolkien nos diz que tal aventura tem mais valor histórico que literário, caçoando daqueles que ele, como autor, critica no ensaio sobre Beowulf, “Beowulf: the monsters and the critics” (2006). Então, se você está pensando em ler algo engraçado, leve e, melhor de tudo, escrito pelo Tolkien, eu definitivamente recomendo Mestre Giles d’Aldeia.

E não se esqueçam de prestar atenção na égua cinzenta!


 
 
 

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