Nienna: Nem todas as lágrimas são um mal
- clubetolkieniano
- 25 de set. de 2021
- 3 min de leitura
Mirane Marques

Oi, oi, oi! Eu sei que todos estão morrendo de saudade. HÁ! Pois estou de volta. E hoje eu vou falar sobre minha Valië preferida, Nienna. Bem, pra quem me
conhece, não há surpresa na escolha, mas para quem ainda só conhece um pouco de
mim pelas minhas palavras, vou explicar.
Eu vivo com depressão e algumas outras doenças mentais desde a adolescência e,
amigos, não é nada fácil! Então, óbvio, quando fui apresentada à Nienna pela primeira
vez já me identifiquei de cara. Mas antes de falar sobre ela, que fique claro que eu não
acho que meu sofrimento seja edificante ou que traga sabedoria a mim ou a qualquer
outra pessoa. Minha identificação com Nienna vem da simpatia pela tristeza; não que eu
goste de ser triste, mas me sinto confortada pela companhia de outros que sofrem.
Chega de falar de mim e vamos falar da grande Valië. Comecemos pelo início... do
mundo. Ou de Ëa.
Como vocês sabem (e se não sabem eu vou contar agora), no início Eru Ilúvatar, o
Um, criou os Ainur, espíritos do seu pensamento, e lhes propôs temas para que
cantassem e, assim, o mundo foi criado. Tenham em mente que, embora os temas
fossem propostos por Ilúvatar, cada um dos Ainur contribuía à sua maneira (vide
Melkor fazendo bagunça) e Nienna, ou Nyenna, integrou à música da criação seu pranto
e sofrimento e eles passaram a existir no mundo criado.
A partícula -nie, do Quenya, significa “lágrima”, o que nos mostra que também na
escolha do nome, quando vai para o mundo, Nienna queria mostrar seu lado piedoso e
sofredor. Vejamos como ela nos é apresentada em O Silmarillion:
“Mais poderosa que Estë é Nienna, irmã dos Fëanturi; ela vive só. É
experimentada na dor e pranteia cada ferida que Arda sofreu na maculação causada por
Melkor. [...] Mas ela não chora por si mesma; e aqueles que lhe dão ouvido aprendem
piedade e constância na esperança.” (p. 55)
Já li/ouvi algumas comparações entre Nienna e a Virgem Maria, principalmente
quando a Valië intercede por Melkor, mas não me lembro da fonte (se essa ideia foi sua,
pode contar aqui pra gente). Não vou me aprofundar nessa comparação porque isso
daria um outro texto e (acho) alguém já o escreveu, mas é fácil ver na personagem
ficcional o reflexo da mãe de Jesus.
Bem, dirá você, muito legal, mas afinal de contas, quem é essa Nienna além de
chorona?
Oh! Ela é muita coisa! E a evolução da personagem é muito interessante. Em
algum momento Tolkien a pensou como a mulher de Mandos (The Book of Lost Tales,
p. 66), chamada Fui Nienna. Em outro ponto (Morgoth’s Ring), ela foi igualada aos
mais poderosos, Manwë e Melkor, e apresentada como irmã deles. Ela também era
conhecida como Qalmë-Tári (Senhora da Morte), Heskil e Núri. Em todas a versões, no
entanto, ela sempre é aquela que chora pelo mundo e aconselha os necessitados, dando-
lhes esperança. Mas a Nienna “oficial”, ou seja, a de O Silmarillion publicado, era irmã
dos Fëanturi, Mestre dos Espíritos, Námo (Mandos) e Irmo (Lórien). Mandos era o
Guardião da Casa dos Mortos e Lórien era Senhor das Visões e dos Sonhos. Nienna
vivia sozinha e seus salões ficavam no oeste de Valinor, perto dos Salões de Mandos, e
sua janela se abria para fora das muralhas do mundo. Ela sempre atendia aos lamentos
daqueles na Casa dos Mortos e ajudava a transformar tristeza em esperança. A Valië
também era uma dos Aratar, os Sublimes de Arda, os oito Valar mais poderosos (que
eram nove, mas Melkor levou um pé na bunda por ser... Melkor). Seu pranto trazia
sabedoria, esperança e paz, mas não só isso.
Quando Yavanna canta para criar as Duas Árvores de Valinor, Telperion e
Laurelin, Nienna chora sobre elas, ajudando em sua criação. E, depois, quando
Ungoliant e Melkor destroem as Árvores, novamente ela chora, agora sobre as ruínas,
tentando salvar o que sobrou e limpar as profanações da aranha. Com suas lágrimas e o
poder de Yavanna, elas conseguem um fruto de ouro de Laurelin e uma grande flor de
prata de Telperion, que viriam a ser o sol e a lua. Quanto à descrição física de Nienna,
só sabemos que ela usava um capuz cinza.
Uau, né? Mas ainda não acabei. Sabe quem era amigão dela e passou muito tempo
aprendendo sobre compaixão, piedade e tristeza? Olórin! Que conhecemos por aqui
como Gandalf. Sim, ele mesmo! Acho justo afirmar que vemos muito dos ensinamentos
de Nienna nas atitudes do mago durante os acontecimentos da Terceira Era na Terra-
média, mas isso é para outra história.
Bem, pessoal, é isso! Queria contar pra vocês sobre essa personagem que tanto
amo e que nos mostra que há esperança mesmo no maior sofrimento. No mês de
prevenção ao suicídio acho que é muito bom se lembrar disso.
Ah! E não se esqueçam de participar da leitura coletiva de O Silmarillion que o
Clube Literário Tolkieniano de Brasília está organizando! Vai ser incrível e você vai
ficar sabendo muito mais sobre as Valier, os Aratar e o mundo todinho!
Uma última coisa: se houver algum assunto ou personagem que vocês queiram
saber mais ou só ler minhas opiniões interessantíssimas (haha), manda um alô pra gente,
ok? Até a próxima!
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